Casanova canino
Devido ao excesso de famelga presente na residência dos meus pais, tenho dormido na sala. Como já não bastasse o sofá ser uma merda para dormir, a sala ser fria e a minha avó acordar às 8 da manhã e começar desde logo a fazer uma chinfrineira infernal na cozinha, tenho também de servir, durante toda a noite, de porteiro para as investidas românticas do casanova canídeo cá da casa. O meu cão, que tem a bonita idade de 14 anos, quanto mais velho fica, mais tarado está. No inicio ainda pensei, coitadito está velhote já não aguenta muito tempo sem ir fazer uma mijinha. Então, sempre que ele pedia para ir à rua de noite, eu acompanhava-o, pois não queria deixá-lo sozinho e abandonado na escuridão da noite. Ele fazia umas mijitas e sempre que me preparava para regressar a casa, o safado conseguia escapulir-se. Aparecendo meia hora mais tarde a ladrar à porta de casa, para eu o deixar entrar. Como resultado desisti de lhe fazer companhia e comecei a deixá-lo ir sozinho.
Hoje de manhã uma senhora que vive aqui no bairro, queixou-se à minha mãe que anda um cão a rondar e a mijar a sua casa durante a noite. Diz ela que o ladrar dele é muito parecido com o do meu cão, mas que esse, pobrezinho, está muito velhote e que nem durante o dia o vê, por isso de certeza que não se trata dele. Como é mais que óbvio é mesmo ele. O cabrão é que refinou, uma vez mais, a sua técnica de engate e agora tornou-se noctívago. Só ontem acordou-me novamente por cinco ou seis vezes. Os que pensam que seria fácil ignorá-lo e deixá-lo fechado dentro de casa, não conhecem a sua persistência. Em vez de acordar algumas vezes, passava era a noite toda em branco, com a choradeira e guinchinhos do velho jarreta.
Neste preciso momento, o engatatão encontra-se a dormir profundamente, decerto a preparar-se para mais uma noite em grande. Mas infelizmente hoje vai-se tramar, pois o seu porteiro de serviço está de abalada, vou-me embora hoje, e duvido que mais alguém aqui em casa caia na sua esparrela.
Escusam de ficar com pena dele, é só uma questão de tempo até arranjar uma nova estratégia.