Na Sala de Espera
As salas de espera de hospitais, consultórios e de laboratórios de análises clínicas e exames sempre foram palco de diálogos verdadeiramente eruditos. Ahh, é com saudade que me lembro de uma conversa na sala de espera de um otorrino em que um velho dizia ao seu interlocutor e a quem o quisesse ouvir: tiraram-me dois baldes de sangue de um dos ouvidos. Enfim, um clássico.
E é por esses momentos nostálgicos que venho criar mais uma rubrica n'O Período intitulada "Na Sala de Espera".
Hoje trago-vos um monólogo daqueles velhos que acham que toda a gente lhes está a passar à frente. Não contente com a resposta da recepcionista que o havia informado, após interpelada, que as pessoas não eram atendidas por ordem de chegada ou de posição na fila, mas sim pela marcação que já estava efectuada há muitos dias, este brilhante orador continuou, apontando baterias para uma senhora que aguardava sentada:
- Sim, porque esta senhora - apontando para a mesma - ouvi-a ainda antes de chegar à clínica que lhe doíam as pernas e que só queria chegar e sentar-se mas, em vez disso, colocou-se logo ao guichet para confirmar a marcação. Afinal não lhe deviam doer assim tanto as pernas, não é?
E tendo sido ignorado lá continuou a resmungar qualquer coisa até que se calou, ou morreu, já que deixou de fazer barulho.