Tascas
Por contingências do destino, não herdei o nome Meireles do meu pai. Desde pequeno invejo o meu velho, que ao entrar em qualquer tasca era sempre calorosamente recebido. “Olha o Meireles!!!!”, “Meireles vens mesmo a tempo do bagaço”, “Meireles canta lá aí um faducho”, gritavam os outros bêbados. Quando finalmente completei 6 anos e a idade deixou de ser um impedimento para poder acompanhar o meu pai nas suas idas à tasca, fiquei a ser conhecido como filho do Meireles. Andava todo babado, não só do bagaço a escorrer-me pela beiça, mas também de orgulhosamente ostentar o nome Meireles. Mas foi sol de pouca dura, quando chegou a altura de ganhar a minha independência nominal e deixar de ser conhecido como filho do Meireles, o meu bilhete de identidade traiu-me. Faltava lá o brejeiro apelido. Apesar do sangue de todos os Meireles que tiveram comas alcoólicos em tascas, correr nas minhas veias, o terrível facto de não possuir este nobre nome no papel, era impeditivo de eu ser autenticado como Meireles, pelos meus pares nas tascas. Pois, como todos nós bem sabemos, é uma questão de princípio para qualquer frequentador de uma tasca, tratar o seu companheiro por um dos seus apelidos. E foi assim que deixei de poder entrar de cabeça erguida em tascas onde fosse reconhecido. Agora frequento esporadicamente tascas desconhecidas, onde me faço passar por Meireles, até ser apanhado na minha rede de mentiras e escorraçado mais uma vez.